11 Jul Diácono David Azevedo
Sou o David João Silva Azevedo, tenho 36 anos e sou natural da paróquia do Divino Salvador de Moreira – Maia. Estudei até ao 12º ano de escolaridade tendo ido, em seguida, trabalhar para a Efacec, onde estive durante nove anos, até aos meus 28 anos, altura em que me despedi para ingressar no Seminário do Bom Pastor. Durante estes 28 anos de vida tive uma infância, adolescência e maioridade completamente normais. Convivi com amigos, estudei, trabalhei – pois gostava e gosto muito de agricultura e de cozinhar – diverti-me e procurei viver nos altos e baixos das descobertas da vida.
Durante todo este tempo, nunca deixei a minha comunidade paroquial, desde os simples três a quatro anos, tempo em que rezava o terço numa pequena capela – de Santa Luzia – perto de minha casa, até à fase mais adulta, na qual participava num dos coros da paróquia, em Comissões de festas e de culto, estando disponível para ajudar naquilo que necessitassem.
Esta ligação à comunidade foi fundamental para a minha vocação sacerdotal: desde logo, nos primeiros anos em que a recitação do terço me fez amar Maria, amor que mais tarde seria extensivo a seu Filho, Jesus Cristo. Este amor fazia com que já naquele tempo tivesse um desejo: ser sacerdote. Depois, na adolescência e a seguir a ela, fui negando este sonho, pois outras vontades igualmente belas – como o matrimónio – se iam manifestando. Mas a ligação à comunidade fez com que nunca perdesse a ligação a Cristo. Fui crescendo e com o passar dos anos, embora o sonho não desaparecesse – por muito que negasse sempre e eu mesmo lutasse contra ele – ia considerando que o tempo já tinha passado e que seria tarde para tomar uma decisão dessas. Por volta dos meus 26 anos, o pároco fez-me uma interpelação, e sem nunca termos falado do assunto, disse-me que pensava ver em mim vocação para o sacerdócio e que deveria experimentar uma aproximação ao Seminário. Prontamente neguei e disse-lhe que não seria esse o caminho, contudo, após aquele momento um turbilhão se sentimentos e dúvidas despoletaram em mim. Desde a vontade de um sonho, que voltava a ser real, às dúvidas em deixar toda uma etapa laboral que tinha alcançado. Logo em seguida entra um novo pároco e, devido ao serviço que ia prestando na comunidade, rapidamente nos conhecemos. Nele via uma outra forma de estar, mais aberta e mais relacional, que ao mesmo tempo me deixaram à vontade para falar das minhas dúvidas. Cerca de um ano se passou até ter coragem para lhe falar num sonho que cada vez mais se tornava certeza, numa alegria que era difícil de explicar. Falamos e encontrei disponibilidade, ajuda e acompanhamento que, facilmente, me clarificaram a decisão de responder favoravelmente ao chamamento que o Senhor me fazia.
Aos 28 anos, entrei então no Seminário do Bom-Pastor, onde fiz o ano Propedêutico e, no ano seguinte, fui para o primeiro ano do Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição do Porto, onde estive durante seis anos de formação. Foram tempos fundamentais que me ajudaram a construir espiritual, humana e academicamente, bem como me ajudaram a discernir o caminho a seguir. Nesta etapa senti a alegria de poder responder ao amor de Deus, no serviço aos irmãos, e, ao mesmo tempo, na responsabilidade e na noção da dificuldade em me manter sempre fiel ao caminho.
Espero conseguir fazer como aqueles primeiros quatro discípulos que seguiram Jesus no Evangelho de Lucas: «e deixando tudo seguiram Jesus» (Lc. 5,11b). Deixar o meu egoísmo que me aprisiona, deixar as amarras que me afastam do amor de Deus, até poder chegar, um dia, ao ponto de ser digno de dizer como Paulo: «já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2,20). Daqui derivam os dois aspetos que considero mais importantes no ministério sacerdotal: ser testemunha na vida e nas ações concretas do amor sentido por Deus, sendo homem normal, mas sempre manifestando Cristo em todas as opções e em todos os momentos; e como consequência servir os irmãos a quem serei confiado, estando atento às suas vidas e realidades concretas, de forma a levar-lhes sempre Deus, fazendo com que eles, percebendo o Seu amor por todos, vivam para Deus.