05 Out A VIRTUDE DA ESPERANÇA NA ARTE, Mario Vitali
Fig. 1: Pintura de Piero del Pollaiolo (1443-1496)
A esperança é a segunda etapa do itinerário que nos leva a descobrir as virtudes na arte cristã. O Catecismo da Igreja Católica, no nº 1817, afirma: «A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o reino dos céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos, não nas nossas forças, mas no socorro da graça do Espírito Santo».
O Papa Francisco, no Angelus de 15 de novembro de 2015, definiu a Esperança como “a mais pequena das virtudes, mas a mais forte. E a nossa esperança tem um rosto: o rosto do Senhor ressuscitado, que vem com grande poder e glória”. Parece, portanto, que não se trata de uma coisa, mas de uma Pessoa. Mas como é que esta virtude pode ser representada visualmente? Os grandes mestres da arte, em diferentes épocas e em diferentes contextos, recorreram muitas vezes aos mesmos símbolos e figuras para nos aproximarem da compreensão das virtudes.
Tal como recorremos à esplêndida obra de Piero del Pollaiolo (1443-1496) para a apresentação da virtude da Caridade, podemos agora contar também com o seu famoso septenário. Nele encontramos a Esperança colocada à direita da Caridade (Fig. 1).
Fig. 2 – A Esperança. Pietro del Pollaiolo
Na visão do artista, as virtudes são sempre representadas por figuras femininas, como acontece nas representações das virtudes de Giotto e de muitos outros artistas. As virtudes, todas femininas, quase parecem indicar uma preocupação maternal no dom concedido por Deus.
A jovem está sentada num trono, simbolizando o domínio desta virtude sobre os corações dos crentes. O rosto está virado para cima na esperança e na expetativa, um convite a vencer a tentação que gostaria de ver a nossa oração imediatamente atendida, um abandono à Providência divina na certeza de que ela fará o bem daqueles que se abandonam a Deus. Um convite a não ceder ao desânimo. O seu olhar parece ultrapassar o limite da morte corporal, desejando um futuro melhor, quando a vida terrena estará consumada. As mãos juntas, nos códigos gestuais, indicam uma atitude de oração que dá sentido à esperança, porque ela é eficaz quando é confiada a Deus. A mulher veste um vestido verde, cor que simboliza a abundância, a honra e, nos torneios de cavalaria, a esperança da vitória.
Interessante, também, é a imagem da esperança oferecida por Giotto di Bondone (1267-1337) no maravilhoso ciclo de frescos de virtudes e dos vícios na Capela Scrovegni, em Pádua (Fig. 3).
Fig. 3 – A Esperança. Giotto. Capela Scroovegni
Giotto utiliza também a figura de uma jovem mulher, projetada para o alto, até alada, que levanta os braços para o céu para receber a coroa de glória que lhe é oferecida por um anjo.
Nas palavras de Pietro Lombardo (1100-1160), “a esperança é uma certa expetativa de glória futura produzida pela graça divina e pelos méritos anteriores”, razão pela qual, na iconografia de Giotto e Pollaiolo, a esperança ergue um olhar tranquilo para o céu e estende a mão para uma coroa, símbolo da glória futura que a espera.
O símbolo da âncora completa a apresentação dos sinais iconográficos mais recorrentes nas representações da esperança na arte cristã. Na Carta aos Hebreus 6,19, afirma-se: «Porque nela [na esperança] temos como que uma âncora segura e firme para a nossa vida».
Fig. 4 – Cruz e âncora de São Clemente
Ausente nas obras dos artistas acima apresentados, a âncora é um símbolo recorrente desde os primeiros tempos cristãos. Entre as mais conhecidas está a ancora conhecida como “Cruz de São Clemente” (Fig. 4) em referência ao martírio do pontífice São Clemente (88-97) sob o imperador Trajano (53-117), que foi lançado ao mar com uma âncora de ferro ao pescoço. É, frequentemente, representado como um ícone estilizado da cruz, a esperança de felicidade eterna para aqueles que acreditam. O sinal da âncora em forma de cruz foi utilizado sobretudo durante as perseguições como símbolo oculto da cruz de Cristo. De facto, a linha horizontal colocada sob o anel da âncora sugeria a forma da cruz.
A âncora cruciforme é uma expressão típica do cristianismo, pois não tem comparação com sinais ou símbolos de outros povos ou civilizações.
Quem possui firmemente esta virtude não se deixa desencorajar por nada quando se propõe trabalhar para a glória de Deus. As contrariedades e os obstáculos, em vez de enfraquecerem a virtude, confirmam-na e fortalecem-na, confirmando o que São Paulo escreve: «esperar contra toda a esperança» (Rm 4,18).
Mario Vitali
In https://alleanzacattolica.org/la-virtu-della-speranza-nellarte/
Tradução SDPV